Esse é o momento, devo declarar, eu sou órfã.Não como todos os órfãos, pois tenho pai e mãe, mas eu sou órfã de lugar.
Sou como cameleão me camuflando nas paisagens da cidade.
Nasci numa pacata cidade do interior - que nem sei se é pacata, pois não tenho nenhuma lembrança daquele lugar. A não ser por fotos que dizem ser lá.
Meu primeiro ano foi comemorado em uma cidade tambem do interior, porém menos pacata - nessa eu retornei mais velha, apenas de passagem, apenas por algumas horas, mas sei que não sou de lá, não pertenço aquele lugar.
Ainda muito nova estive em outras cidades, de outros estados e de outras regiões... possuo lembranças, contatos, experiências e vivências, mas não pertenço a nenhum daqueles lugares.
Sou como camaleão que ao longo da vida descobriu milhares de tons de verde ao ponto de não saber mais qual foi o tom do seu primeiro verde.
Passaram-se os anos e eu conheci de tudo, quase tudo. Mata, floresta, praia, serra, cidade grande, cidade pequena até cidade histórica. Do mato ao cimento, da areia a poeira.
Não absorvi o lugar, talvez tenha absorvido uma série de lugares - como os tons - por mero instinto de sobrevivência, mas sei que nenhum dele me absorveu.
Me tornei adapitada e adapitável... meio aqui e meio acolá... nem aqui e nem acolá!
Moro aqui há tantos anos, mas não "pertenço" e nem sou "pertencida". Sou órfã de Lugar - e
perdoe o clichê - livre pra voar!Gosto daqui, mas também gosto de lá. Sei o que não sou... E ainda sobre o cameleão; NÃO SOU Lagartixa, tenho certeza. Mas não me assusto se me descobrir Jacaré!
