Escolho minhas palavras como se escolhe uma fruta
Eu sinto, apalpo, cheiro e por vezes degusto
Ao menor sinal de que ele não serve, troco, escolho outra para evitar viver o arrependimento da mordida.
Um cuidado para que ela não se vire contra mim; um tomate arremessado no interlocutor.
Escolho minhas palavras como um perfume.
Harmônico, casado com o momento e de aroma acolhedor e agradável.
Assim evito a consequência drástica de repelir o quis inebriar, atrair...
O efeito de se entender o que não se quis dizer... consequências trocadas de escolhas realizadas de modo leviano.
Eu uso as palavras como uso brincos.
Grandes e exuberantes para desviar o olhar, chamar a atenção e entorpecer.
Clássicos e discretos para ganhar objetividade e passar o recado.
E as vezes não uso; para não enfeitar o que não precisa de enfeite, observar o momento que pode ser das orelhas (ouvidos) e não dos adornos.
Eu uso as palavras como uma apresentação de circo.
Um malabarismo de palavras que exigem concentração, o andar na corda-bamba.
Uma grande palhaça para garantir a descontração.
O atirador de facas para revelar o uso afiado das letras.
Suave como a bailarina, radical como o globo da morte... movimentos calculados para garantir o entretenimento.
Mas também reconheço que, as vezes, não é hora de frutas, perfumes, brincos ou circo... então me calo.